Vamos começar a nossa viagem pelo continente da Oceania, destino que se tornou exemplo mundial do combate à pandemia, com melhor desempenho na gestão da pandemia.
A Nova Zelândia decretou diversos lockdowns e ofereceu claras informações à população. O país implementou as mais rígidas restrições, e o governo, liderado pela primeira-ministra Jacinda Ardern, tomou decisões consideradas mais agressivas do que outros países desenvolvidos, como o confinamento de toda a sua população por um mês e o fechamento total de fronteiras, publicou a BBC News. “Ter uma postura forte e dentro do prazo deu ao governo e ao setor de saúde tempo para se preparar para o pior, incluindo a instalação de estações de teste e ampliação da capacidade hospitalar”, disse a professora Ella Henry, da Universidade de Tecnologia de Auckland, à BBC News Mundo.
A Austrália fechou suas fronteiras em março e teve um dos mais longos e severos lockdowns do mundo, com períodos diferentes de duração em cada estado, o que foi possível o país voltar a sua normalidade, com protocolos e uso obrigatório de máscara. Atualmente, os moradores que desejam voltar ao país precisam pagar 3 mil dólares australianos para passar 14 dias em um hotel em isolamento.
Na visão de alguns residentes, hoje quase não percebem a presença do vírus, mas creem que isso foi devido à uma rápida resposta do governo desde o início da pandemia. Além da grande quantidade de testes realizados, o governo ofereceu subsídio financeiro a todas as famílias, como pagamento do Family Day Care, que é um serviço de creche domiciliar (mesmo que as crianças estivessem indo para a escola), JobKeeper para manter os negócios que foram prejudicados e JobSeeker Payment aos que tiveram sua jornada de trabalho reduzida, equivalente a aproximadamente 500 dólares australianos por semana. O governo também permitiu que os australianos acessassem seu Superannuation Payment, o fundo de garantia, podendo sacar até 10 mil dólares locais. Além disso, todos os estudantes internacionais receberam uma parcela de auxílio de cerca de 1.000 dólares.
Inovação e cuidados na retomada de turismo e eventos
Como solução para manutenção das viagens e turismo, no início da pandemia, discutiu-se muito sobre a implantação de bolhas de viagem, o que permitiria viagens entre os dois países. Entretanto, este acordo permitia aos neozelandeses viajarem à Austrália, mas os Australianos ainda precisavam cumprir a quarentena de 14 dias para ingressar na Nova Zelândia. Recentemente, com a origem de novos casos na Nova Zelândia, a bolha de viagens foi suspensa pela Austrália.
Portanto, apesar do interesse entre países de estimularem viagens e o turismo entre eles, a situação epidemiológica determina a abertura ou não das fronteiras e as ações de enfrentamento ao Covid-19, ou seja, a saúde e o rígido controle ainda permanecem como prioridades nesta gestão da pandemia desses países.
“Se for bem-sucedido, o plano aponta para uma rota de saída clara, com um retorno cuidadoso às atividades normais”, menciona a BBC News, sobre um artigo científico publicado por um grupo liderado pelo epidemiologista Michael Baker, sobre a estratégia da Nova Zelândia.
A eficaz estratégia desses países e o sucesso no controle da pandemia pode permitir o retorno de eventos e o cenário esportivo com público. No último domingo, 21 de fevereiro, a Austrália realizou a final do Grand Slam Australia Open, torneio de tênis que chamou atenção por receber 30 mil torcedores por dia, sem máscara nas arenas abertas. As restrições foram bem rígidas, com limitação de 50% de capacidade, venda de ingressos somente por meios digitais, arenas higienizadas a cada partida e proibição da circulação de público pelo complexo. Em novembro de 2020 a liga de rúgbi realizou um evento com 52 mil torcedores na Austrália e em abril deste ano, o país pretende receber etapas do mundial de surfe.
Benchmarking para o mercado brasileiro
Em dezembro de 2020, de acordo com a pesquisa global realizada pela consultoria inglesa Brand Finance, Brasil, Índia e Estados Unidos ficaram entre os últimos colocados em estudo que analisou a percepção sobre 105 países e como enfrentaram a crise do Corona vírus.
Em outro estudo, o Instituto Australiano Lowy divulgou em janeiro de 2021, um ranking de gestão da pandemia, que apresentou a Nova Zelândia na primeira colocação e Austrália em oitavo lugar. O Brasil, junto com México, Colômbia e Irã, ficou na última colocação.
Alguns pontos beneficiam a Nova Zelândia nos estudos acima em relação a outros países. Certamente, a geografia do continente favorece o controle das fronteiras estabelecidas, além disso, a população de 4,8 e 25 milhões de habitantes da Nova Zelândia e Austrália respectivamente, apresentam maior facilidade de controle da população do que em outros países mais populosos.
Ao analisar a possibilidade de serem aplicadas essas medidas no Brasil, Gonzalo Vecina, professor do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, considera que isso é impossível. “Dentre os fatores que são obstáculos, estão a desigualdade social, o nível educacional e o tamanho da população”, argumenta.
A infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Raquel Stucchi opina que “Seria viável seguir o exemplo da Nova Zelândia, mas agora já não é mais. Temos realidades diferentes, mas a filosofia mestra deveria ser: precisamos fazer isolamento”. Outrossim, pondera sobre liderança: “É uma única voz no comando do país, que ouve a ciência. Ela (primeira-ministra Jacinda Ardern) falando e todos obedecendo. Claro que lá o território e a população são muito menores, mas isso faz diferença. O que aconteceu aqui é que cada um falou uma coisa, então cada pessoa seguiu o que era melhor para si”.
De acordo com o epidemiologista Michael Baker e sua equipe “O bloqueio tem grandes custos sociais e econômicos e provavelmente será particularmente difícil para aqueles com menos recursos”. Entretanto, “O êxito da estratégia de eliminação do vírus está longe de ser certeiro na Nova Zelândia.”, comenta o epidemiologista, apesar do sucesso na gestão da pandemia na Nova Zelândia.
Estímulo ao turismo local, com criatividade
O Tourism New Zealand, organização governamental de promoção do destino, criou uma campanha de turismo para estimular neozelandeses a fazerem algo diferente no país e assim, apoiar empresas do segmento. Com a hashtag #DoSomethingNewNZ, o website da campanha traz inspirações para as férias escolares e viagens em família, com a comercialização de experiências imperdíveis no país. Conheça a campanha: