Poder do turismo

Foto: Eric Ribeiro/M&E

Toni Sando (*)

 

O termo “turismo” está frequentemente associado a atividades de lazer, passeio e entretenimento, mas o setor é um dos pilares que sustentam a economia de muitas regiões e países. Por isso, o Dia Mundial do Turismo, celebrado hoje, foi estabelecido pela Organização Mundial do Turismo (OMT) para ressaltar a importância econômica, social e cultural dessa atividade.

 

Por trás de cada visita a um destino, há uma complexa rede que é ativada, beneficiando comunidades locais, empresas e governos. O turista, seja ele nacional ou estrangeiro, carrega consigo recursos financeiros que movimentam uma série de atividades. Da reserva de uma acomodação até o consumo em restaurantes, a compra de lembranças e a participação em eventos, cada ato do viajante contribui para a injeção de dinheiro na economia local. Isso resulta em mais empregos, maior arrecadação de impostos e, muitas vezes, em melhorias na infraestrutura local, que também beneficiam os moradores.

 

Essa dinâmica é importante em muitas cidades pequenas ou em regiões menos industrializadas, nas quais o turismo é a principal fonte de renda. Sem ele, essas comunidades poderiam enfrentar desafios para manter seu desenvolvimento. O turismo impacta não apenas o setor de serviços, mas também a agricultura, a cultura e as tradições locais, que muitas vezes se mantêm vivas graças ao interesse dos visitantes.

 

Nos grandes centros, com infraestrutura, centros de convenções e de exposições e hotéis de todas as categorias, o turismo de negócios e eventos é uma indústria que envolve todos os setores. De acordo com estudo da FGV, a cada R$ 1 investido na promoção do turismo, outros R$ 20 são injetados na economia por meio do consumo efetuado pelos visitantes estrangeiros.

 

Esse efeito multiplicador é o que faz do turismo um setor tão estratégico. Não se trata apenas de atrair os viajantes, mas de criar um ambiente favorável e que contribua para o desenvolvimento sustentável do destino. É fundamental que as políticas públicas e a sociedade civil estejam afinadas para garantir sustentabilidade à atividade.

 

Outro destaque é o turismo de negócios e eventos, que tem crescido exponencialmente nos últimos anos, com segmentos e subsegmentos gerando conhecimento, cultura, relacionamento e oportunidades. Congressos, feiras, convenções e exposições atraem milhares de pessoas para os destinos onde são realizados. O resultado é uma economia local aquecida, com benefícios que se estendem para além do período da realização.

 

Como se sabe, hoje, alguns destinos questionam os impactos do overtourism, que ocorre quando um local recebe um número excessivo de visitantes, resultando em sobrecarga da infraestrutura, degradação ambiental e insatisfação, tanto de turistas quanto de residentes.

 

O sociólogo Domenico De Masi (1938-2023) abordou o conceito de “ócio criativo” e a importância do tempo livre para o desenvolvimento pessoal e social. Entretanto, em relação ao turismo de massa, destacou que, embora seja uma força importante para a economia e para a troca cultural, também pode ter efeitos negativos, especialmente quando não é bem gerido.

 

De Masi argumentava que o turismo de massa pode levar à “banalização” dos destinos, com perda de autenticidade cultural em favor de experiências padronizadas e comerciais. Além disso, alertava para os impactos ambientais e sociais que o número desenfreado de visitantes pode causar, como a superlotação, o aumento do custo de vida para os residentes e a degradação dos recursos naturais e culturais. Ele defendia que a atividade deve ser equilibrada e sustentável, preservando a identidade e o patrimônio dos destinos, ao mesmo tempo em que oferece aos turistas uma experiência enriquecedora.

 

No Brasil talvez já haja casos pontuais de overtourism, mas estamos longe desse cenário. Aqui, ainda enfrentamos desafios ligados à falta de visitantes em várias regiões com grande potencial, mas que necessitam de mais incentivo, promoção, políticas públicas adequadas e infraestrutura, que permitam o acolhimento de um número crescente de turistas sem comprometer a qualidade da experiência ou a preservação do ambiente.

 

As políticas públicas são essenciais para criar um ambiente favorável ao crescimento do turismo. Isso inclui infraestrutura básica, como estradas e aeroportos, incentivo fiscal e concessão de parques naturais e equipamentos culturais para empresas privadas e especializadas.

 

A recente discussão sobre a reforma tributária no Brasil é um exemplo de como o turismo pode ser impactado por mudanças nas políticas econômicas. É vital que o setor seja reconhecido por sua capacidade de gerar emprego e renda, e tratado como uma prioridade nas agendas de desenvolvimento econômico, com alíquotas competitivas. A experiência internacional demonstra que países com IVA reduzido para o turismo mantêm sua competitividade, atraindo visitantes e incentivando a economia.

 

O turismo no Brasil ainda tem muito espaço para crescer. Temos uma diversidade cultural e natural impressionantes, e é fundamental que os próprios brasileiros reconheçam o valor de explorar e conhecer seu País, seu estado e sua cidade. O turismo interno fortalece a economia nacional e contribui para uma maior coesão social e para o desenvolvimento de um sentimento de pertencimento entre os cidadãos.

 

O brasileiro ainda não conhece o Brasil, mas não pelo fato de acreditar que o turismo no País é caro. Basta pegar um compasso e fazer um círculo de 100 km num mapa para descobrir muitos atrativos com baixo custo de locomoção, viáveis para uma viagem e experiência.

 

Nesse Dia Mundial do Turismo, devemos reconhecer que somos turistas em algum momento de nossas vidas. E, como tal, temos um papel a desempenhar na promoção do crescimento sustentável dos destinos que visitamos. Em cada viagem que fazemos, cada cidade que exploramos, contribuímos para o fortalecimento da economia local e a preservação da cultura e das tradições.

 

Turismo é uma poderosa ferramenta de desenvolvimento socioeconômico e beneficia visitantes e moradores.

 

(*) Toni Sando é presidente executivo do Visite São Paulo Convention Bureau, presidente da Unedestinos – União Nacional de CVBs e Entidades de Destinos e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo