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Fabio

28 janeiro 2021

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O equilíbrio pode salvar o turismo e o seu destino

O equilíbrio pode salvar o turismo e o seu destino

Toni Sando é Presidente da UNEDESTINOS, União Nacional de CVBs e Entidades de Destinos, Presidente Executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau e Membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo

``São perguntas cujas respostas urgem por atitude, bom senso e equilíbrio, distribuídas as responsabilidades entre a sociedade civil, entidades de classe e o poder público em nível municipal, estadual e federal, na busca constante por propostas, soluções e novas oportunidades.``

Na última semana, o setor de turismo, eventos e viagens acompanhou com otimismo o anúncio da eficácia da Coronavac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac. Também seguiu com atenção todas as notícias sobre o movimento de imunização mundial, começando pela Europa, e aguarda com muita expectativa a divulgação do Plano Nacional de Vacinação.

 

Tudo é muito importante para reativar, de fato, a macroeconomia e a esperança de dias melhores.

 

Na vida pessoal, vivenciamos a partida de milhares de pessoas, famílias desestabilizadas, mas também, reconhecemos muitos heróis, profissionais da saúde, resistindo bravamente pelo bem de todos. Nos negócios, chegamos (nem todos) até este momento com muito esforço e sacrifício. Cortes de orçamento, demissões, revisão das relações trabalhistas, remodelagem de modelo de negócio e, infelizmente, muitos fechamentos e pessoas qualificadas sem perspectivas de retornar ao mercado de trabalho a curto e médio prazo. O que estava ao alcance do empresário e da saúde financeira das companhias, com o suporte de medidas provisórias e decretos do último ano, foi feito – mas o mercado ainda adoece.

 

Para os destinos nacionais, a luta tem sido árdua. Como promover o turismo frente a uma pandemia, ainda que a fase de flexibilização permita um turismo responsável? Como voltar à dinâmica das viagens de negócios e reuniões presenciais? Como sobreviver a uma nova onda e possíveis fases mais rígidas caso a pandemia avance? Como programar um congresso, uma feira ou exposição presencial? Como abastecer com a compra de produtos e mercadoria, sem previsão de público? Como ser competitivo com equipamentos e espaço que seguem as limitações impostas contra uma concorrência desleal e ilegal, que promove aglomerações, sem uma real fiscalização, prejudicando a imagem de profissionais que realizam os eventos com seus expositores, palestrantes e público com responsabilidade?

 

São perguntas cujas respostas urgem por atitude, bom senso e equilíbrio, distribuídas as responsabilidades entre a sociedade civil, entidades de classe e o poder público em nível municipal, estadual e federal, na busca constante por propostas, soluções e novas oportunidades.

 

O setor de turismo, eventos e viagens, há tempos, já comprovou sua importância na economia, entretanto, ainda assim, é subvalorizado e, muitas vezes, utilizado como moeda de troca pelas gestões públicas. A “indústria sem chaminé’, como é conhecido, tem o poder de salvar os destinos e reativar a economia local, seja agora, com a vacinação ainda em curso, seja pós-crise, com a clara alta demanda reprimida por viagens, principalmente para o turismo regional.

 

A pandemia segue forte, com números cada vez mais preocupantes. Todos os pleitos solicitados desde março do ano passado, atendidos ou não, continuam essenciais. Diversos segmentos do setor precisam manter a suspensão de contrato de trabalho, uma vez que ainda não contam com um grande público ativo para consumir seus produtos e serviços em tempo integral. Isenção de taxas, linhas de crédito, políticas adequadas de cancelamento, revisão da estabilidade, benefícios emergenciais, tudo ainda é fundamental para manter o setor respirando e, consequentemente, viabilizando emprego e renda em cada destino. As consequências das decisões nacionais, sejam elas do executivo ou legislativo, impactam na prosperidade e na vida dos habitantes de um município, de um destino.

 

Hotéis, pousadas, resorts, bares, restaurantes, shopping centers, ruas especializadas, centros de convenções, transporte, organizadores de eventos, promotores, companhias aéreas, casas de espetáculo, parques temáticos e muito mais. Todos estão trabalhando para manter a operação, contratos e empregos. Mas a volatilidade das flexibilizações não torna possível planos de curto prazo, 15 dias à frente.

 

Sejamos realistas, sem exercitar futurologia. Há um difícil caminho até a imunização, mas os destinos, por meio da sociedade civil organizada, devem se manter empenhados como vetores protagonistas da recuperação econômica. Os Conventions & Visitors Bureaus e as entidades setoriais têm um papel fundamental nessa articulação. Além do apoio legal e sanitário para manterem operação e promoção, é preciso que todas as conquistas e lutas travadas até aqui se mantenham, pois a guerra contra o vírus ainda não acabou.

 

É vital o equilíbrio entre medidas do poder público, flexibilização seguindo protocolos comprovados de saúde e higiene, e segurança para planejamento de ações a curto, médio e longo prazo. Esse caminho só é possível com muito diálogo e propostas construtivas – que, obviamente, não são solucionadas em redes sociais.

 

Além da importância do setor do turismo na retomada econômica de um destino, talvez sua maior contribuição seja com a saúde mental de quem viaja, pelo convívio, contemplação, experiências e lembranças; e com a saúde mental de quem trabalha, por possuir uma atividade, gerar autoestima, ter o prazer do servir e do bem receber, gerando, consequentemente, renda e segurança para sua família.

 

Por mais que a pandemia tenha tirado temporariamente isso de nós, ela não vai ganhar essa guerra. Afinal, nada substitui a interação humana que só o turismo, as viagens e os eventos podem proporcionar.